Calendário de programas de melhoramento genético na pecuária: planeje seu 2026

Artigo escrito pela Dra. Giovanna Moraes*

O sucesso de um programa de melhoramento genético não depende apenas da quantidade de animais avaliados, mas também da organização das etapas que sustentam o processo.

Em programas como ANCP e Embrapa Geneplus, cada fase do calendário, do envio de dados à divulgação dos sumários, influencia diretamente a precisão das avaliações e o progresso genético dos rebanhos participantes.

Apesar disso, muitos criadores ainda enfrentam dificuldade para acompanhar as datas, compreender o propósito de cada etapa e alinhar suas rotinas de manejo aos prazos estabelecidos por cada instituição. A consequência é previsível: perda de informações, exclusão de animais das análises e atraso no ganho genético da fazenda.

Compreender o calendário anual dos programas de melhoramento é, portanto, essencial para quem busca consistência e resultados.

Neste artigo, nós vamos te explicar de forma clara os calendários da ANCP – Programa Nelore e da Embrapa Geneplus – avaliação genômica raça Nelore, além de apresentarmos orientações práticas para integrar cada etapa ao planejamento do seu rebanho. Esses são os principais programas de melhoramento genético de Nelore P.O que publicam DEPs para características de eficiência alimentar. Vamos lá?

Primeiramente, o que são os programas de melhoramento genético?

Os programas de melhoramento genético são sistemas organizados de coleta e análise de dados e interpretação de informações que permitem identificar, com base em critérios científicos, os animais com maior potencial para transmitirem características desejáveis aos seus descendentes, com base na estimação de parâmetros e méritos genéticos.

O objetivo é oferecer ferramentas para impulsionar o progresso genético dentro dos rebanhos e, consequentemente, aumentar a produtividade e a eficiência dos sistemas de produção.

Esses programas utilizam dados fenotípicos, como peso, consumo de alimento por dia, perímetro escrotal e características de carcaça e informações genealógicas para estimar valores genéticos que orientam a seleção e os acasalamentos. A precisão dessas estimativas depende diretamente da qualidade e da periodicidade dos dados enviados, o que reforça a importância de seguir o calendário de atividades estabelecido por cada instituição.

Entre os principais programas de melhoramento voltados à pecuária de corte no Brasil, destacam-se o da Associação Nacional de Criadores e Pesquisadores (ANCP) e o Embrapa Geneplus.

ANCP (Associação Nacional de Criadores e Pesquisadores):
É um dos programas de melhoramento genético mais consolidados da pecuária nacional, e teve seu início com avaliações da raça  Nelore. Possui como missão aumentar a produtividade da pecuária de corte por meio do melhoramento genético das raças, sempre buscando a satisfação de todos os envolvidos na Cadeia Produtiva da Carne, desde o criador até o consumidor final.

Embrapa Geneplus:
Desenvolvido por uma parceria pública privada entre a Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa) e o a Geneplus Consultoria Agropecuária Ltda. O programa Embrapa Geneplus atua com assessoria especializada em melhoramento genético de gado de corte. Seu foco está na aplicação de ciência e tecnologia para promover a seleção equilibrada de características produtivas, reprodutivas e adaptativas. O programa também se destaca pela forte ênfase em assistência técnica e capacitação de produtores, integrando a pesquisa científica às práticas de campo.

Compreender o funcionamento desses programas de melhoramento é o primeiro passo para aplicar seus calendários de forma estratégica. Cada um possui etapas específicas de coleta de dados, prazos de envio e períodos de avaliação, que precisam ser respeitados para garantir a participação efetiva nas análises genéticas anuais.

Tecnologias que auxiliam a coleta e calibração de dados

Um dos pilares para garantir a precisão e a confiabilidade dos dados utilizados nos programas de melhoramento genético é a utilização de tecnologias avançadas para coleta e calibração das informações fenotípicas.

Entre elas, destacam-se os cochos eletrônicos, que permitem medir individualmente o consumo de alimento diário, e as balanças de pesagem voluntária, que realizam pesagens frequentes e sem estresse para os bovinos. Essas ferramentas reduzem erros humanos e aumentam a qualidade dos dados, tornando as avaliações genéticas mais robustas. Um exemplo de tecnologia é o Intergado Efficiency, da Ponta. Um sistema completo utilizado para mensurar a Eficiência Alimentar em bovinos. Ele é composto por três principais componentes integrados:

Cocho eletrônico: monitora e registra automaticamente o consumo de alimento de cada animal, identificado por brinco eletrônico, eliminando erros manuais.

Balança de pesagem voluntária: registra o peso dos bovinos diversas vezes ao dia enquanto eles vão ao bebedouro, sem estresse, gerando dados precisos e contínuos do ganho de peso.

Software  Efficiency: realiza o processamento dos dados coletados em tempo real, calcula as métricas de Eficiência Alimentar e emite alertas e análises para apoio na tomada de decisão pelo produtor.

Os dados das provas de Eficiência Alimentar (consumos individuais e pesagens individuais) podem ser enviados diretamente para os programas de melhoramento genético, e assim compor o banco de dados para atualizações das avaliações genéticas, com fortalecimento das acurácias das DEPs.

Por que o calendário é importante nos programas de melhoramento?

O desempenho de um rebanho dentro dos programas de melhoramento genético não depende apenas da quantidade dos animais avaliados, mas da sincronia entre a coleta de dados e o ciclo de avaliações. Cada etapa, do nascimento à desmama, do sobreano à estação de monta, precisa ocorrer dentro de prazos específicos para que as informações sejam incorporadas corretamente nas análises.

O calendário dos programas de melhoramento tem, portanto, uma função técnica e estratégica.

Do ponto de vista técnico, ele assegura a consistência dos dados, permitindo que animais avaliados em diferentes fazendas e regiões possam ser comparados em condições equivalentes. Isso garante a confiabilidade dos valores genéticos preditos (DEPs) e evita distorções nos resultados.

Sob o ponto de vista estratégico, o calendário coordena o planejamento produtivo da fazenda. Ele orienta o momento ideal para enviar dados fenotípicos, realizar pesagens, coletar informações reprodutivas e enviá-las aos programas. Quando respeitado, o cronograma permite que o produtor mantenha seu rebanho constantemente atualizado nas avaliações e participe dos sumários genéticos mais recentes — o que, por consequência, aumenta o valor comercial de seus animais.

Ignorar o calendário, por outro lado, pode gerar perdas significativas. Dados enviados fora do prazo deixam de ser considerados nas análises, reduzindo a representatividade do rebanho e comprometendo a confiabilidade das informações.

Além disso, atrasos na coleta podem afetar a qualidade dos registros — especialmente em características que variam com a idade do animal, como peso e perímetro escrotal.

Em síntese, o calendário é o eixo organizador dos programas de melhoramento. Ele conecta as atividades de campo às etapas de avaliação genética, garantindo que cada informação coletada contribua para o avanço genético do rebanho e para o retorno econômico da seleção.

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Como planejar o seu ano com base no Programa Nelore – ANCP:

A ANCP atualiza suas avaliações genéticas seis vezes ao ano, e o cumprimento dos prazos é essencial para garantir que os dados sejam incorporados às análises mais recentes. Para a coleta de dados de pesagens e perímetro escrotal a fazenda deverá escolher entre um dos 03 diferentes cronogramas de pesagens com 04 pesagens anuais cada para seguir e informar a Base de Dados da ANCP

Datas das pesagens para cada cronograma

As fazendas que optam pelos cronogramas 1 e 2 devem pesar animais jovens, machos e fêmeas, desde o nascimento até 18 meses de idade. O perímetro escrotal dos machos deve ser medido entre 9 e 18 meses. Recomenda-se pesar a vaca adulta uma vez ao ano, preferencialmente no período da desmama. O peso ao nascer deve ser registrado e enviado.

No 3º cronograma, as mensurações fora do intervalo permitido não serão utilizadas no cálculo das DEPs, reforçando a necessidade do respeito aos prazos para garantir a validade dos dados.

As avaliações de ultrassonografia são realizadas por técnicos e laboratórios credenciados e devem ser feitas entre 330 e 640 dias de idade. A avaliação morfológica deve ser realizada por um técnico capacitado e deve ser feita entre 365 e 610 dias de idade. A avaliação a desmama (150 a 270 dias) é opcional.

Datas limite para envio de dados e liberação das avaliações – ANCP

Como planejar o seu ano com base nos programas de melhoramento com a Embrapa Geneplus

O programa Embrapa Geneplus atualiza as avaliações genéticas da raça Nelore 4 vezes por ano, em abril, julho, outubro e janeiro do ano seguinte.

Datas limite para envio de dados e liberação das avaliações – raça Nelore – Embrapa Geneplus:

As datas limites para chegada das amostras nos laboratórios de genotipagem são definidas em função das datas de atualização dos resultados das avaliações genéticas:

• Para resultado atualizado em janeiro: amostras recebidas nos laboratórios de genotipagem até 12 de setembro;
• Para resultado atualizado em abril: amostras recebidas nos laboratórios de genotipagem até 19 de janeiro;
• Para resultado atualizado em julho: amostras recebidas nos laboratórios de genotipagem até 19 de março;
• Para resultado atualizado em outubro: amostras recebidas nos laboratórios de genotipagem até 25 de junho.

Envio de dados de Eficiência Alimentar para os programas de melhoramento genético animal

Os dados de consumo e pesagens em provas de eficiência alimentar a serem enviados deverão ser auditados por profissionais qualificados com base nas orientações do Manual para coleta de dados de consumo individual de bovinos de corte.

Os animais devem ser avaliados em provas de eficiência alimentar a partir dos 8 meses de idade, quando 2 meses após o desmame, e deverão finalizar a prova com no máximo 24, havendo, então, amplo intervalo para avaliação dos animais. 

Por essa razão, cada prova deverá respeitar rigorosamente a formação de grupos contemporâneos – animais da mesma raça, mesmo sexo, com no máximo 90 dias de diferença de idade e variação do peso inicial de 20%.

 O ideal é que os dados lapidados sejam enviados aos programas logo após o término da prova. A utilização dos dados enviados para a atualização das avalições genéticas seguirá os cronogramas de recebimento de dados de cada programa.

Integração dos calendários na rotina da fazenda

Mais do que seguir prazos, o criador deve compreender que o calendário dos programas de melhoramento é uma ferramenta de gestão.

Ao integrar as etapas ao manejo diário e aos registros zootécnicos é possível transformar o melhoramento genético em um processo contínuo e previsível, não em ações isoladas ao longo do ano.

Um planejamento eficaz também inclui o acompanhamento técnico regular com consultores credenciados pelos programas, assegurando que eventuais ajustes sejam feitos em tempo hábil e que o rebanho permaneça em conformidade com os critérios de cada programa.

Organização, consistência e alinhamento com as datas de envio de dados são fatores que definem o ritmo do progresso genético e o retorno econômico do investimento em seleção.

Interessado em saber mais sobre avaliações genéticas na pecuária? Então continue com a Ponta! Recomendamos a leitura: Avaliação genética na pecuária: como os dados transformam o futuro do seu rebanho | Ponta Agro

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*Médica veterinária, Mestre em Melhoramento Animal e Doutora em Biotecnologias Reprodutivas, Giovanna possui experiência consolidada em testes de eficiência alimentar, avaliação de rebanhos, seleção de animais, orientação de acasalamento, coordenação de pesquisas e gestão e desenvolvimento de projetos. Professora e pesquisadora na área de melhoramento e produção animal, possui diversos artigos científicos publicados em revistas internacionais.

Atualmente se dedica a difundir a importância da seleção para eficiência alimentar para uma produção sustentável. Realiza planejamento, acompanhamento e fechamento de testes de eficiência alimentar, orientando sobre o uso das informações e seus impactos produtivos. Atua como palestrante em eventos, media debates e orienta cursos sobre melhoramento animal. É líder do Mercado de Genética da PONTA, em que realiza gestão de projetos de inovação.